quinta-feira, 16 de abril de 2009

A trilha sonora de nosso tempo - Frank Jorge (Volume 3)

É fato! Volume 3 é o melhor disco da carreira solo do músico gaúcho Frank Jorge. E para um cara com sua história, isso é muito bom. Frank apareceu ainda na década de oitenta com a seminal Cascavelletes, (que possui o mérito, entre outros, de ter tocado a música “Eu quis comer você” no programa Clube da Criança, de Angélica). Depois ainda integrou os Cowboys Espirituais, mas foi com a Graforréia Xilarmônica que atingiu um público maior. A música "Nunca Diga" chegou a freqüentar as paradas de videoclipes da MTV e foi gravada pelo Pato Fu, que fez o mesmo com "Eu", também do grupo

De lá pra cá pode-se até dizer que ele quase não precisa fazer mais nada. Mas pra nossa sorte ele fez. Esse é o terceiro disco de uma relevante carreira solo (e nem falemos aqui na faculdade de Rock, criada por ele lá no Rio Grande do Sul). E o que podemos esperar desse disco senão o mesmo que sempre tivemos da música de Frank Jorge? Mas nesse caso, o tal jargão “mais do mesmo”, não funciona. Frank consegue usar das mesmas referências e soar diferente. Nos dois outros álbuns já foi assim e nesse não é diferente. Talvez seja exatamente isso que o torne seu melhor disco. Além, é claro, do órgão Hammond e do baixo Hofner, igual ao de um certo McCartney.

O álbum começa com "Elvis". Letra biográfica que remete ao começo da paixão do próprio autor pela música e um refrão sensacional: “Elvis na fase decadente é bem melhor que muita gente” Aliás, uma das grandes marcas desse trabalho é que cada uma das músicas tem algum trecho de letra daqueles que servem pra molecadinha colocar como nick do orkut ou msn. Em "Obsessão anos 60", uma sátira quase também a si mesmo, dispara “Tudo o que eu queria era entender porque as bandas dos anos 80 estão sempre em nova turnê”. Não custa perguntar aos Titãs, quando estes passarem por sua cidade.

"A Historiadora" não poderia ser de outra pessoa. Pequena crônica de amor platônico e mensagem sobre o academicismo. O non-sense que aparece no finalzinho da canção é daqueles que sempre me agrada. Em "A Imagem" retoma as baladas com uma propriedade que só ele possui. Não é a toa que se tornou um dos mestres de toda uma geração de músicos herdeiros de uma noção melódica sessentista. Frank traz isso para o começo do século e parece ser o único que pode fazê-lo de maneira absolutamente natural.

A ensolarada "Pilhas de Livros" e o bolero "Eu demiti um amigo" recolocam o disco na trilha da crônica urbana moderna. A primeira falando o óbvio (a correria da vida moderna) com naturalidade e a segunda flertando com o brega. Segundo o próprio Frank, algumas rádios a usam para ilustrar notícias sobre a crise econômica. "Não pense agora" tem um baixo bem destacado e letra dor-de-cotovelo-bem-humorada. "Não sou como vocês" é outra balada radiofônica. Narra as agruras de um “cara bacana” que não consegue se encaixar. Sensação da qual ninguém está livre, cantada de um jeito bem pop.

Impressionante como o disco varia entre a crônica e a balada. "Não espero mais nada" nos conta a história de um casal que (mas que surpresa!) não deu certo. Com uma levada jovem-guarda ele canta: “Nossa vida nos primeiros tempos foi muito boa. Saímos no tapa e depois recitei um Fernando Pessoa”. "Alice" é rock bubble-gum. Que a essa altura fazia um pouco de falta. Vai na contramão melodicamente e a letra, pra variar um pouco, fala de uma garota a fim de um cara que não percebe isso.

"O que sobrou do mundo" é a minha preferida. Não a toa é uma balada, coisa que melhor Frank Jorge sabe fazer. E aqui faz com uma precisão impecável. Fala dos sonhos do homem comum e da incapacidade de lidar com isso, mas com humor e sotaque peculiares. Afinal, todo mundo planeja viajar, se um dia o salário melhorar.

Coube a "Se você ainda me quiser" fechar o disco. Acho que o faz muito bem. Pode até não ter sido intenção dele. Mas o trabalho começa e termina como deveria ser cronologicamente. Frank Jorge quase não precisa fazer mais nada, mas ainda bem que faz. E, se assim pudermos dizer, sim Frank, nós ainda o queremos. Que venham outros tantos discos.

2 comentários:

  1. Se minha internet permitir, vou baixar agora mesmo, você foi bem convincente ;)

    E vou prestar bastante atenção na letra ao ouvir... afinal, preciso ir à caça, abastecer o nick do meu MSN ou meu Twitter ou meu Orkut com alguma frase bem hype.

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  2. Dom Mimi de las Maresias Buenas20 de abril de 2009 às 18:58

    Grande Roberto,sem duvida nenhuma um dos maiores letristas do rock nacional.
    Ave Frank Jorge

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