quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Páginas e mais páginas - Fôlego (Tim Winton)

Não esperava nada demais ao começar a ler Fôlego, do australiano Tim Winton. Pra ser bem sincero não tive interesse nenhum no livro e atribuo isso ao preconceito pelo fato de a obra ser basicamente sobre um surfista e sua vida no mar. Mas quando soube que o autor estaria em Santos para a Tarrafa Literária, festival internacional de literatura, resolvi dar uma chance a mim mesmo, já que a essa altura eu tinha ouvido diversas críticas bem elogiosas sobre o romance.

Mesmo após o começo da leitura, ainda não havia indícios de que eu chegaria ao final das 252 páginas da maneira como cheguei. Apesar do início ser um dos mais empolgantes que li recentemente, não tinha a perspectiva de ter a opinião que tive, não me via achando o livro bom (muito bom é o que devo dizer para ser 100% honesto) e nem empolgado para escrever sobre ele por aqui.

O que aconteceu no meio do caminho foi que a narrativa de Tim Winton me cativou de tal maneira, que eu só pensava em terminar de ler antes que chegasse o dia da mesa em que ele participaria na Tarrafa. Quando entrei no ônibus rumo ao Teatro Guarany, faltavam dez páginas. Terminei de ler ali, no foyer do lugar onde Tim falaria com os leitores brasileiros. Eu não precisava necessariamente chegar ao fim assim, correndo, mas senti que devia isso ao cara que me emocionou profundamente falando de algo que nem de longe é o “meu mundo”

Típico romance de formação, Fôlego conta a história de vida e amadurecimento de Bruce Pikelet, a partir de suas reminiscências. O jovem que mora em uma pequena cidade perto da praia descobre que a única diversão possível de conseguir é o surf. Com o tempo, ao lado de um amigo pouco confiável e de um mentor mais velho, descobre que o mar fará muito mais por ele do que simplesmente proporcionar momentos inesquecíveis no esporte. E o que presencia e vivencia é que vai construindo a maneira como ele passa a enxergar o mundo ao seu redor.

Das primeiras frustrações com o ser humano e com ele mesmo por descobrir que medo é algo natural ao primeiro amor e a inevitável decepção que este sentimento causa. Tudo contribui para a formação do caráter de qualquer garoto. E Pikelet descobre, no fim das contas, que não é tão diferente dos outros quanto ele pensava ser.

Para os surfistas, a identificação com cenários e situações deve ser imediata. A riqueza de detalhes é impressionante. Para os não iniciados no assunto, como eu, Winton consegue criar uma empatia natural que valoriza os sentimentos contraditórios da juventude, fazendo com que o esporte fique apenas como pano de fundo de uma história tão profunda quanto bela.

Fôlego é o primeiro livro de Tim Winton publicado no Brasil. Saiu lá fora no ano passado. É o primeiro passo para que se traga as outras obras do autor. A mulher perdida (The Riders / 1995) é considerado seu principal trabalho e será lançado em breve por aqui. Quem esteve na Tarrafa Literária, no entanto, teve a possibilidade de comprar um exemplar antes da hora. Eu garanti o meu.

Livro: Fôlego
Autor: Tim Winton
Editora: Argumento (Casa da Palavra)
Páginas: 252
Preço: R$32,00

Fiquei preocupado em falar meu nome devagar pra ele entender na hora
do autógrafo. Ele respondeu que era fácil, apontando para o meu crachá.

4 comentários:

  1. Cara, teve uma época em que eu queria ser surfista, comprava Fluir e tudo. O fato de não saber nadar impediu um pouquinho, e o fato de ter assistido "Tubarão" quando criança mais um pouquinho. Lembro até hoje da cena em que o rapaz grita pro filho: "MICHAEL, SAIA DA ÁGUA!!!!" Horripilante. Os outros dois filmes que mais me assustaram foram "O Bebê de Rosemary" e "Poltergeist". O livro parece bom, sempre há gratas surpresas quando quebramos a barreira do preconceito, como você mesmo citou. É isso, abraço!

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  2. Dom Mimi de las Maresias Buenas9 de setembro de 2009 às 20:55

    Velho Rob, o Folego é um livro de surfista para não surfista.

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  3. Eu tb confesso que, na primeira vez em que vi o livro na Realejo, não me empolguei nem um pouco, justamente pq a capa remete a esse mundinho surfista que em nada me atrai. E continuei a não dar bola até notar a sua empolgação com a obra. Eis que, na Tarrafa Literária, Tim Winton me ganhou. Ele fala com uma paixão e de forma tão simples que é impossível manter o preconceito de que um cara como ele não possa ser um grande escritor. Estou super a fim de ler os dois livros.
    Pena é saber que obras gringas demoram tanto para chegar por aqui. Quando fui pegar o autógrafo, perguntei quando A Mulher Perdida foi publicada lá fora, e ele respondeu que entre 94 e 95. É uma lástima, mas antes tarde do que nunca, né não?!
    Amei a Tarrafa e Tim Winton foi, certamente, uma das melhores surpresas. Pude até treinar meu inglês enferrujado... rs
    Adorei o post! Beijos

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  4. Ah, e fotou uma coisinha no seu texto:
    "Crédito da foto: Débora Magalhães"
    Hahahaha

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