sexta-feira, 19 de junho de 2009

Páginas e mais páginas - A Auto-Estrada (Stephen King, escrevendo como Richard Bachman)

Recentemente estipulei a meta de ler mais autores que até agora não conheço. Trabalhando em uma livraria eu estou em contato com centenas de títulos muito bons. A esmagadora maioria deles eu ainda não li (ninguém leu tudo o que quer) e uma grande parte é de autores cuja obra eu ainda não conheço. Sendo assim, estabeleci como obrigação conhecer coisas diferentes, não só no que diz respeito a nomes, mas também a estilos e gêneros.

Fuçando em sites de livrarias vejo um título e uma capa que me agradam muito. Aparece a silhueta de um homem projetada contra o asfalto de uma estrada, com o céu ao fundo levemente escurecido por nuvens negras. Decidi que queria ler esse livro. Simples assim. Seria (e foi) a minha primeira experiência com Stephen King. Trata-se de A Auto-Estrada.

A sinopse ajudou muito. Não sou fã de terror, o que até então me afastou do autor de Cemitério Maldito e O Iluminado. Desses livros eu vou continuar afastado, mas sinto que os thrillers psicológicos de King ganharam um novo fã. Esta história é escrita por ele sob o pseudônimo de Richard Bachman. Há, inclusive, um texto no fim do livro em que ele relata a importância de ser este “personagem”.

A Auto-Estrada é a história de um americano típico (seja lá o que isso realmente quer dizer).Acontece no fim de 1973 e começo de 1974. O filho querido acaba de morrer ainda criança, o que por si só já é o suficiente para estragar a vida de qualquer sujeito normal. Para piorar, a extensão de uma rodovia será construída e, para isso, a fábrica em que trabalha e sua casa terão que ser demolidas, por estarem no caminho do “progresso”. Todos os vizinhos aceitam, os comerciantes locais também, mas não o pobre e aturdido Barton Dawes. Para ele é inadmissível abandonar a casa, cheia de lembranças boas, que a essa altura são as únicas coisas que lhe restam.

A sua determinação é tão grande que, vendo o casamento definhar por conta de seu comportamento, não consegue fazer nada a respeito. Nada importa mais do que defender seu lar, sua memória, sua história. E nem mesmo a perda da esposa o faz retroceder em sua luta contra a grande inimiga: a extensão 784 da rodovia.

O livro é daqueles que não dá vontade de parar. Cada desmembramento leva a outra intricada investida pela mente do protagonista. Ele não se degenera ao longo da trama, ele já está no fundo do poço desde o começo, desde antes. E mesmo assim o vemos cavar mais. Há passagens tão tensas que você sente-se ali ao lado, comendo um hambúrguer gorduroso ou bebendo um drinque caseiro de 5ª categoria. Ainda assim, existe poesia em meio a tanta loucura. (“...Naquela noite, eles assistiram à TV até o último canal no ar transmitir o hino nacional, e então fizeram amor diante das barras coloridas, os dois explodindo de dor de cabeça por conta da vista cansada. Desde então, raras vezes uma TV pareceu tão bonita...”).

Há inversão de valores. E você descobre que está tudo ok a respeito disso. O que a sociedade “normal” chamaria de psicopata está certo em defender seu espaço. Não há como não se compadecer de sua dor, de sua angústia. Não há como não concordar com a luta quixotesca que trava contra o sistema, sem questão política nenhuma na mesa. Stephen King (ou Richard Bachman) faz tudo tão bem que esquecemos até mesmo que lição de moral no final de história é corta clima total. Aqui ela chega de mansinho, como a conclusão óbvia do desfecho inevitável.

Enfim, bem vindo Sr. King às minhas prateleiras!

Livro: A auto-estrada
Autor: Stephen King (escrevendo como Richard Bachman)
Editora: Suma de letras (Objetiva)
Páginas: 304
Preço:
R$44,90

2 comentários:

  1. Ueba, quer dizer que agora você topa ver 'O Iluminado' comigo? rsrsrs
    Adoro o fato de você estar se permitindo ler outros tipos de livro. Depois de 'Os homens que não amavam as mulheres', 'A auto-estrada'... surpreendente! (não que eu tenha lido esse último, mas é Stephen King, pombas!)
    Bom, sendo repetitiva, só pra variar, esse é mais um para a listinha de obras que você vai emprestar para a sua namoradinha linda :)
    Beijos

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  2. Dom Mimi de las Maresias Buenas23 de junho de 2009 às 19:35

    Depois de ler o pai,leia A Estrada da Noite do filho de King, Joe Hill.
    Acho que você vai gostar também

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