quarta-feira, 1 de julho de 2009

Literatura em quadrados (O Chinês Americano)

As pessoas são influenciáveis. Eu diria que altamente influenciáveis. Para explicar melhor essa afirmação eu precisaria discorrer todo um tratado sobre o relacionamento humano e sobre como é importante estar sempre inserido em algo maior que nós mesmos. Mas não é o que se espera por aqui, e eu nem teria competência de teorizar com a propriedade necessária. Deixemos isso pra lá então.

Prefiro relatar a última vez que fui influenciado. Meu amigo André me chamou no MSN e perguntou se a livraria onde trabalho já tinha recebido um certo livro. Na ocasião não tinha chegado ainda, o que demorou mais ou menos duas semanas. Resultado: Assim que abri a caixa, separei O Chinês Americano para ler. Só pelo fato de um amigo com gosto parecido com o meu ter perguntado sobre esse material. E, em maior ou menor escala, é assim que funciona com o ser humano.

O Chinês Americano, de Gene Luen Yang, é uma HQ lançada recentemente pelo novo selo editorial da Cia das Letras, o Quadrinhos da Cia. (Nova York, de Will Eisner; Jubiabá, de Jorge Amado e Retalhos, de Craig Thompson completam a primeira leva de lançamentos). Yang nasceu em 1973 e é autor de muitos outros álbuns de quadrinhos, mas foi com essa história que foi indicado ao National Book Awards, um dos mais importantes prêmios literários do mundo. Além disso ganhou o Michael L. Printz Award, dado aos melhores de literatura infanto-juvenil, em 2007.

O Chinês Americano narra três histórias paralelas. Um garoto imigrante chinês sofre para se adaptar à sua nova escola nos EUA e encontra motivação na paixão que nutre por uma colega. Ao mesmo tempo, um jovem americano se desespera a cada visita de um primo que todo ano vem da China para envergonhá-lo perante todos, fazendo com que a cada “inter-temporada” de aulas, ele tenha que mudar de escola e de amigos. O tempero final é adicionado com a nova roupagem que Yang emprega a uma tradicional lenda chinesa, a do Rei Macaco, que renega sua própria natureza ao ser rejeitado pelos deuses. Depois de ter sua arrogância devidamente castigada, é o Rei Macaco que será a ligação entra as duas histórias que se passam no tempo atual.

Meus amigos sabem que não me interesso por cultura oriental. Mangás, animes e hentais da vida não me atraem. O que me aproxima da história de O Chinês Americano é a extrema modernidade ocidental e o senso de humor leve e inteligente da narrativa. Além de não possuir uma certa pretensão desmedida que muitos autores novos carregam em suas "revolucionárias" estreias. Outro ponto a favor é arte, sem nenhuma invenção nem traços complexos, o que ajuda a evidenciar o roteiro. Yang aproveita a experiência pessoal e conta uma história simples, sobre humildade, amor e amizade. Fazer tudo isso sem tender para a lição de moral é uma tarefa das mais árduas, e ele consegue isso com maestria.

Longa vida ao novo selo de quadrinhos da Cia das Letras. Vez por outra há quem chegue na livraria dizendo que HQ não é literatura. Se não fosse pelas histórias em quadrinhos, eu não seria o leitor dedicado e interessado que sou hoje. Se não fosse por elas, muita gente também não o seria. E se O Chinês Americano não é literatura, eu não sei mais nada sobre isso.

O Chinês Americano
autor: Gene Luen yang
páginas: 233
editora: Cia das Letras
preço: R$47,50

Um comentário:

  1. Que lindo texto! Concordo que as pessoas são influenciáveis. Eu, por exemplo, sou super influenciável por vc! rs

    Parece ser bem gostosinho de ler e, só pela capa, O Chinês Americano já me ganhou. Outro que entra na minha listinha.

    E é claro que HQ é literatura, também só me tornei a leitora que sou hoje por conta das diversas revistinhas da Turma da Mônica que eu devorava em poucos minutos. Até hoje sou assim, se pintar alguma na minha frente... Adoro!

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