quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A Trilha sonora de nosso tempo: Pearl Jam - Backspacer (2009)

Foram mais ou menos 13 ou 14 horas, desde o momento em que eu e meu irmão colocamos os pés na Praça Charles Miller de manhã bem cedo até virarmos as costas para o palco em direção à saída do estádio do Pacaembu. E toda essa espera representava uma ainda maior: de 12 ou 13 anos. Desde a adolescência, quando Even Flow, Alive e Jeremy não saíam do meu toca-fitas, eu prometia a mim mesmo que quando a banda responsável por algumas das melhores canções que a minha geração viu surgir viesse ao Brasil, eu estaria no show, nem que para isso precisasse ir a pé de Santos a São Paulo.

Não precisou! E tudo foi amplamente recompensado, primeiro com a abertura do seminais do Mudhoney apenas nos preparando para o delírio completo. Dos acordes iniciais de Go ao final, esgoelado, suado, cansado e feliz com Yellow Ledbetter. Mais do que valer a pena, o show do Pearl Jam no dia 02 de dezembro de 2005, em São Paulo lavou minha alma. Renovou minha fé na banda e, consequentemente, no rock’n’roll conforme o conhecia na época do álbum de estreia, Ten.


(Black, do Acústico MTV. Pré-rompimento. Um dos primeiros sucessos, ainda com Dave Abruzezze na bateria)

Backspacer, oitavo disco da banda, funciona mais ou menos na mesma frequencia. O Pearl Jam é a grupo que melhor tira proveito de toda a modernidade para traduzir ideias em canções realmente relevantes. Presta seríssima reverência à história da música sem parecer “babão” ao mesmo tempo em que caminha facilmente na atmosfera atual do rock sem precisar revisar a roupagem pra soar “moderninho”.

E é logo de cara que se percebe isso. Gosto de muita coisa atual, mas a maioria parece sempre simples ou complexo demais. Com esses caras a gente pode finalmente prestar atenção só na música, que afinal é o que importa. Já nos primeiros minutos, fazem todas as bandas que emulam seu som parecerem pó. Got Some e The Fixer me deixam com a mesma sensação do final daquele show. Catarse na crueza e sofisticação sempre na medida certa dão o tom. Johnny Guitar, por exemplo, bebe diretamente na fonte de todas as suas influências. A diferença é que mesmo assim ouvimos uma coisa nova.


(Yellow Ledbetter fechou o show de 02 de dezembro no Estádio do Pacaembú. Reparem na troca de instrumentos entre alguns dos integrantes.)

A banda está afiadíssima. O mérito é manter-se na estrada, sem frescura. Não tem briguinha, desistência toda semana ou competição de egos. Eddie Vedder parece um menino em um disco de estreia, mas isso acontece a cada trabalho novo. As guitarras do disco nos mostram que Stone Gossard (sutil e constante) e Mike McGready (quase um guitar-hero) continuarão a criar memórias sonoras como as dos riffs de álbuns anteriores. São os melhores no que fazem, sem cair na repetição. Jeff Ament e Matt Cameron dão a consistência sem malabarismos que toda banda precisa. Isso nos dá um grupo cheio de atitude, mas que não usa isso como produto um só minuto.

Vedder está imbatível em Just Breathe. Por mais que pareça sobra da trilha do filme Na Natureza Selvagem a canção é o momento máximo de beleza melódica. A voz falha e o violão dedilhado constroem uma melodia bem simples, um folk calmo que ganha um contrabaixo bem marcado e backing vocals precisos. É a minha preferida. Já Supersonic vai no frenético ritmo contrário. É uma rápida descarga de adrenalina, dessas que os moleques gostam de dançar se contorcendo na pista.

Considerado pela maioria dos fãs como o melhor disco desde Yeld, de 1998 (foram três de estúdio até o novo) Backspacer tem a produção de Brendam O’Brien, coincidentemente produtor daquele álbum. Não que os que vieram neste intervalo sejam menores, mas dá pra perceber que o fôlego aqui é novo, que a motivação é grande. Já eram três anos desde o homônimo Pearl Jam, último deles.


(Got Some, uma das novas)

Não dá nem mesmo pra dizer qual a melhor música de Backspacer. Citei as favoritas de primeira audição. Mas Unthought Known é daquelas pra se ouvir de olhos fechados (mais ou menos como In Hiding, do Yeld). Gonna See My Friend abre o disco da maneira sem igual. Speed of Sound e Force of Nature são uma dobradinha perfeita, cada uma com seu estilo e sua pegada. The End, por sua vez, até agora é a que me soa mais estranha, talvez por servir meio como um anti-climax. Mas isso daqui a pouco muda. Tenho certeza.

O Pearl Jam pode nunca estar nas listas atuais de mais vendidos (ainda existe isso?). Não é o que importa. Quase vinte anos de carreira serviram para os caras construírem um dos mais respeitados set-lists de todas as bandas de sua geração. Podem até ser chamados de “irmãos certinhos” da outra banda de Seattle, o Nirvana, mas isso não quer dizer caretice, apenas respeito à sua própria arte e aos fãs, que só aumentam. E mesmo aqueles que curtiam os primeiros sucessos e teriam tudo pra achar que a fase de PJ já passou, renovam sua fé em shows como os do Brasil de 2005 ou com discos como Backspacer, candidato forte a melhor do ano.


(The Fixer, primeiro single de Backspacer)

P.S.: Não deixem de visitar Pearl Jam (Troca de Arquivos), do meu irmão Leonardo Feliciano. Sem medo de parecer nepotista, ouvi dizer que é o melhor blog que existe sobre a banda. E de lá você poderá ir a muitos outros sites sobre o PJ.

4 comentários:

  1. Dom Mimi de las Maresias Bueanas25 de setembro de 2009 às 21:17

    velho Rob ,o Pearl Jam soube com o passar dos anos manter sua integridade e fidelidade ao velho rock.

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  2. Nossa, que post completo, hein?! Texto bacanérrimo e cheio de vídeos para contextualizar, adorei.
    Já tinha lido impresso e elogiado pessoalmente, o comentário é só para registrar :)
    Beijos!

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  3. Cadê "Do the Revolution"? O melhor clipe de todos os tempos!

    Que absurdo... vou ficar um mês sem comer brócolis (quiçás mais, não, provavelmente mais) em protesto por essa herética ausência.

    ... o resto é silêncio!

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  4. Por pouco não nos esbarramos no Pacaembu, estive no show do dia 3, nem precisa dizer que esta data está gravada para sempre.
    Sou fã do trabalho da banda e o meu disco preferido é o Binaural (2000)e sei que muita gente não gosta, mas confesso que o novo álbum ainda não caiu no meu gosto, mas sei que aos poucos a coisa vai rolando...
    Gonna see my friend é muito boa e dê uma chance a The End, fantástica.
    Belo post!

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