quinta-feira, 4 de março de 2010

Páginas e mais páginas - O Roteirista (Vinícius Pinheiro)

Minha geração não tem nada.

Pode parecer demais dizer assim, secamente. Mas é a realidade. Antes, os chamados "caras-pintadas" fizeram um certo barulho no começo dos anos 90. E por mais que eu ache que não foi lá essa coisa toda, é o último suspiro de um movimento popular de juventude.

Nós nascemos sob o estigma de não termos nada pelo que lutar. Durante os anos 60 jovens brigaram para que o país voltasse ao ter um governo democrático e liberdade. Nós, que nascemos no fim dos anos 70, não podemos nem mesmo dizer que "somos os filhos da revolução". Somos no máximo, os filhos da abertura política. E o que nos sobrou foi o exercício do saudosismo vazio praticado pelas universidades e a sensação de que "já foi bem pior, hoje está tudo muito bem!"

Vá lá que se diga que elegemos um presidente de esquerda vindo do povo. Tudo bem, mas isso não é necessariamente um feito da "galerinha" das faculdades, e sim do próprio povo que queria ver uma mudança.

Sob esse aspecto, O Roteirista - Uma fábula vulgar, de Vinícius Pinheiro, é, por assim dizer, sobre essa geração. Em pouco menos de 200 páginas, Vinícius discorre sobre as angústias de se ter entre 27 e 32 anos. É claro que não é “o” romance definitivo, mas ainda assim, é um relato bem fiel, do ponto de vista emocional.

Talvez nossa angústia seja não ter angústias. E aí as inventamos. Nossos relacionamentos não são estáveis, tanto com amores quanto com amigos, achamos sempre que somos subvalorizados em nossos subempregos, sem perceber que a gente mesmo é que encara tudo com um subinteresse típico de quem parece nunca estar indo a algum lugar.

O Roteirista - Uma fábula vulgar conta a história de Alberto Franco, estudante de cinema e balconista de uma farmácia. Casado (apenas mora com a mulher) e vivendo diversos casos passageiros que lhe rendem peso na consciência, Franco goza de certo prestígio nos círculos que frequenta, tudo por conta de seu aclamado roteiro. Todos sabem que é algo que pode mudar a história e o modo de fazer cinema no país. Amigos querem participar, a faculdade quer bancar e até mesmo os colegas de farmácia sabem da importância da obra de Alberto Franco.

Só tem um problema: O roteiro não existe!

Através dessa fábula, Vinicius constrói a trama de uma forma muito bem elaborada. Destacando sempre as características tão comuns a caras como Alberto Franco ou tantos outros que conheço por aí (me incluo nessa). Desespero por não saber o que ou quem quer para sua vida, egoísmo, rancor, a procura vazia por aplacar dores que só existem porque não se conhece nada pior.

Pode não ser uma obra de arte (ainda não sei se gostei do final). Mas com esse livro, de 2007 e que só li agora, Vinícius Pinheiro traça um pequeno perfil do que é sua geração. E como, assim como eu, ele nasceu em 1979, eu sei do que ele está falando. Ou pelo menos acho que sei (o que não deixa de ser típico).

3 comentários:

  1. Acho que a nossa diferença pra geração dos anos 60 e 70 é que os membros da nossa geração não possuem 'inimigos' em comum, objetivos em comum. Cada um da nossa geração tem um objetivo. E isso não é tão glamouroso. Mas, ainda bem que pequenas batalhas individuais também dão bons livros e filmes.
    Irei procurar esse "O Roteirista..."
    Abraço
    http://amenidadescronicas.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  2. Nossa! Fiquei com muita vontade de ler, Robert!
    Será que a Débora me empresta? hehe
    Grande beijo=))
    Ps.: Parabéns pelo texto...

    ResponderExcluir
  3. O livro é realmente muito bom, quando se começa, não dá mais pra largar.
    Também recomendo.

    ResponderExcluir