terça-feira, 9 de junho de 2009

Páginas e mais páginas - Frenesi Polissilábico (Nick Hornby)

Não são raros os casos de quem tenha entrado em contato com a obra de Nick Hornby através do cinema. Eu mesmo, como tantos outros, descobri o filme Alta Fidelidade (com John Cusack) antes do livro homônimo. E se não foi por esse, com certeza foi através de O Grande Garoto (Hugh Grant). Ouso até arriscar que alguns mais atentos podem ter tido suas curiosidades despertadas ao saber que Amor em Jogo (Drew Barrymore e Jimmy Fallon) foi baseado em Febre de Bola.

De fato, Hornby é um dos autores contemporâneos mais procurados pelo pessoal da sétima arte para transformar livros em filmes. Os três casos citados são filmes inteligentes, que flertam com a cultura pop (esportes, música, cinema, literatura) e com personagens tão interessantes quanto cheios de problemas. E assim é também a construção dos personagens de Hornby em sua obra. Não há complexidade, é verdade, mas há veracidade, carisma e identificação.

O mais recente trabalho é o terceiro escrito pelo autor que não é romance (Falando com o Anjo é uma coletânea de contos de vários autores e 31 canções nada mais é do que uma lista de canções importantes para ele). Frenesi Polissilábico foi originalmente lançado em 2004, mas só em abril desse ano chegou por aqui. É uma coletânea dos melhores textos de sua coluna publicada pela revista britânica Believer. Na coluna, o autor divide, mês a mês, os livros em duas categorias: os que ele comprou e os que leu. Dessa forma, começa a destrinchar os lidos. Frenessi Polissilábico é o apelido que dá aos editores da revista, onde sua coluna chama-se Stuff i’ve been reading (algo como "Coisas que andei lendo").

Basicamente ele precisa escrever sobre os livros que leu e fazer uma espécie de resenha informal. Uma regra (que garante ser exigência do pessoal da revista, mas que acredito ser dele mesmo) é evitar falar mal. Isso ajuda, já que ele passa basicamente a ir direto no que pressente que irá gostar, o que quer efetivamente ler. Isso garante a identificação, pois no fundo o que importa mesmo é ir atrás daquilo que sabemos que vai nos agradar.

Ao escrever com o mesmo descompromisso que faz de seus romances livros deliciosos, Hornby ganha o jogo desde a introdução. A impressão é a de que aquilo na verdade é um grande bate papo com os leitores. Assim como em Alta Fidelidade, você vai percebendo que em determinados momentos está balançando a cabeça concordando ou dando risada de certa situação narrada por ele, como quando ele tece toda uma teoria sobre o nosso ímpeto em comprar livros que sabemos que não iremos ler (ou pelo menos não tão cedo), afirmando que alguém culto tem, ao menos, uma estante cheia de livros bons: clássicos e contemporâneos.

Dão um sabor a mais as piadas que faz com o pessoal da Believer ou a mania de sempre começar as colunas de março do mesmo jeito, desculpando-se por não ter lido muito nos últimos meses por causa das festas de fim de ano. Outro motivo que sempre o faz ser preguiçoso nas leituras é o time de coração de Hornby, o Arsenal, em ação (Febre de Bola é sobre essa paixão). Em outro capítulo, decide ler um livro sobre críquete, segundo ele, somente para poder “pregar uma peça” nos leitores. Em outro, redescobre títulos esquecidos por causa de filhos, que bagunçam a prateleira dos livros jogando alguns no chão. Aí ele passa a esperar que eles façam isso sempre para fazer suas re-descobertas

A sinceridade de Hornby é fundamental para que sua coluna (e consequentemente o livro) não seja um “papo-cabeça” chato. Com relação aos filhos ele ainda descreve o quanto acaba se tornando um pouco mais difícil ler quando se tem preocupações com crianças (Hornby tem um filho com síndrome de down). Por isso chega a comprar pilhas de livros antes de ser pai pela primeira vez por temer nunca mais poder fazer isso. O que não acontece.

Frenessi Polissilábico não é melhor trabalho de Nick Hornby, só porque não é um romance. Cabe a ele mais um papel de jornalista e crítico literário. O que faz com que ele conquiste o leitor é o fato de, a toda hora, demonstrar claramente que não está 100% confortável nessa posição. Cheio com piadas sobre suas próprias críticas ou seus métodos de leituras e com uma insegurança que procura demonstrar com certa graça. Nick Hornby não escreveu um livro de crítica literária acadêmico, e isso pode fazer com que muitas coisas das quais ele fala acabem em algumas estantes por aí.

Livro: Frenesi Polissilábico
Autor: Nick Hornby
Editora: Rocco
Páginas: 264
Preço:
R$33,00

3 comentários:

  1. Don Mimi de las Maresias Buenas9 de junho de 2009 às 19:49

    Tô contigo e não abro!
    Abraços do amigo Ogro

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  2. Isso de descobrir o Hornby por meio do cinema aconteceu comigo também (aliás, graças a sua evangelização!), e é claro que me refiro ao Alta Fidelidade.
    Achei o máximo essa roleta de redescobrir livros a partir da bagunça feita pelos filhos... deve aparecer um monte de pérolas esquecidas no fundo do baú, no corre-corre do dia a dia.
    Trocadilhista meu, adorei o post nesse estante caótica.
    Já sabe, né?! (isso quer dizer = você tem que me emprestar o livro... rs)
    Beijo

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  3. Ah, adorei a foto nova, é a tua cara.

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